10 . Agosto . 2013 · 11:53
DIÁRIO DE BORDO
De acordo com a tradição, cuja origem se perde no tempo, também em 2013 decorreram os Scout Games. Uma competição escutista que põe à prova os conhecimentos dos seus participantes e onde apenas uma equipa sai vencedora. Depois de um ano de duro e intenso treino apenas 23 escuteiros, em representação de 3 equipas, tiveram coragem de participar nos Scout Games 2013:
Chefia: João Pimenta / Tina Santos
Equipa
Che Guevara:
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Rafael Torres
Francisco Pêgo
Sara Duarte
Beatriz Carvalho
Rodrigo Bulha
Mariana Veiga
Rute Sampaio |
Equipa
Eva Perón:
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Margarida Bulha
João Francisco Carvalho
André Sampaio
Beatriz Gomes
Ana Pastilha
Clara Pelotte
Manuel Matos
Rita Machado |
Equipa
Pablo Picasso:
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Rita Flores
Rita Martins
Octávio Afonso
Beatriz Bandeira
Gabriela Gomes
Pedro Andrade
Inês Fonseca
Beatriz Guerreiro |
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De 22 e 27 de Julho de 2013, entre perigosos desafios e provas de coragem, os participantes percorreram a pé 52km da Grande Rota Caminho do Atlântico – Rede Natura do Oeste bem como parte dos 78ha da ilha da Berlenga.
Dia 1 (22 de Julho)
O Autocarro foi bastante pontual – eram 10h15 e já estávamos a caminho de Assenta, com uma paragem na estação de serviço. Ainda antes do almoço, chegámos à A.R.C. de Praia da Assenta. Comemos o que tínhamos trazido de casa e fomos à Praia do Norte pois nos fora indicada como aquela com maior areal. Para além do banho, decorreu uma sessão de pinturas faciais e corporais com barro que havia nas arribas. Depois uma bola que, inexplicavelmente, foi de encontro ao tecto fazendo cair uma placa, jantámos salada fria com maionese de integridade duvidosa. Pelas 23h (era suposto estarmos a dormir há meia hora), decorreu a apresentação dos membros da actual e futura Comunidade Maximiliano Kolbe. Houve uma referência geral ao modo como os exploradores se deveriam “abrir” aos outros a partir de Setembro. Também se falou da continuidade ou passagem para a IV secção dos elementos que entrarão no 12º ano. Eu recordo, especialmente, uma das ambições da Ana Rita e que, pela importância que lhe dei, decidi torná-la num sonho meu também: ir e viajar pelo mundo COMO ESCUTEIRO!
Dia 2 (23 de Julho)
A primeira e mais comprida etapa da caminhada tinha cerca de 22 quilómetros. Por volta das 11h20 parámos na Praia Azul para um mergulho refrescante antes de reiniciarmos a caminhada. O almoço foi na Praia de Sta. Cruz. Acabámos a jornada na sede de escuteiros do Agrupamento 1066 de Ribamar. Foram-nos apresentadas as Ribanilhas (1,5€ cada) que têm motivos que vão desde o escutismo aos filmes de animação. Como estávamos prestes a entrar no dia do 16º aniversário da B.B., fomos a pé até ao centro da vila, mas, visto que nenhum café estava aberto, cantámos-lhe os parabéns na rua antes de regressarmos à sede. Quando chegámos, alguns tentaram comer uma melancia inteira para não termos de a carregar no dia seguinte.
Dia 3 (24 de Julho)
Acordámos e fizemos o que deveria ter sido feito na noite anterior: lavámos pratos e panelas e misturámos massa, frango e salada, mas as 3 embalagens de frango pareciam insuficientes até que encontrámos 3 outras embalagens que tivemos de transportar, juntamente com a segunda melancia. Alguns quilómetros por estrada, outros por trilho ou até por praia constituíram os 10km que terminaram na Colónia de Verão da Casa Pia de Lisboa. Almoçámos e construímos catapultas com as varas que tínhamos trazido para atirar balões de água às outras equipas, no entanto, a qualidade das construções – ou falta dela – determinou que a batalha se travasse com balões atirados à mão. Acabada a guerra, fomos à praia que, mesmo sendo de bandeira azul, não tinha chuveiros em funcionamento e tinha a água cheia de lixo como fruta trincada, plástico, tampas, madeira e cordas. Algumas horas depois, outra ida à praia, desta vez para ver o pôr-do-sol (ao qual não chegámos a assistir)… O jantar, para o qual convidámos os nossos “sherpas”, foi na cantina da colónia em que estávamos hospedados e cantámos os parabéns à B.B que teve direito a um delicioso bolo de aniversário de chocolate… Preparámos as sandes para o dia seguinte e fomos ao bar da Praia do Areal Sul. Por volta da meia-noite, recolhemos aos quartos mas a noite ainda foi longa com truques de cartas e carrinhos de mão.
Dia 4 (25 de Julho)
Tínhamos 20 km de percurso para o 3º e último dia de caminhada. Começámos com alguns quilómetros na praia. O Pedro borrou a toalha num barco e continuámos a andar até São Bernardino, local onde almoçámos. Na conversa que decorreu durante a refeição conversou-se sobre cavalos e alguém, mais conhecedor da matéria, falou de uma famosa professora de equitação italiana. Prosseguimos em direcção ao porto de Peniche. Neste último troço do caminho, a chefe Tina juntou-se à Comunidade, mesmo antes de embarcarmos no barco com destino à Ilha da Berlenga. Durante a viagem começou-se a jogar ao jogo dos dedos, havendo uma acesa discussão sobre as regras do “desporto”. Ao chegar à ilha, optámos por levar tudo de uma vez, carregando o material como porcos. Depressa apareceu a primeira pessoa atingida pelo líquido branco que as gaivotas libertam para saudar os visitantes da ilha. Depois do jantar (massa com atum e natas), cozinhado nos fogões de parafina e cartão e que apresentavam alguns problemas devido ao seu fabricante, os pioneiros dividiram-se entre as tendas e o café onde ficaram a jogar ao famoso jogo de cartas “baldinhos de merda”.
Dia 5 (26 de Julho)
7h30min: Ida ao mar para os corajosos da primeira tenda a acordar. Depois do pequeno-almoço, fomos à praia até à hora de almoço. Os cachorros quentes da refeição levaram a um descanso na esplanada que, por sinal, tinha CALIPOS a 1,50 € – um autêntico escândalo. Até às 16h foi discutida qual a melhor actividade: Eslováquia em 2014 ou Japão em 2015. Pelas quatro da tarde, estávamos à entrada do farol do Duque de Bragança. 148 degraus depois, estávamos perante as luzes do farol que, todas as noites e desde 1840, guia os barcos que por aquela zona passam. O Bulha encontrou a sua profissão de sonho – faroleiro. Uma vantagem do ofício é o facto de ser(em) a(s) única(s) pessoa(s) em toda a ilha com acesso a água potável. Depois da ida ao farol, alguns foram ao Forte de S. João Batista se bem que a visita foi mais de cariz desportivo do que cultural, visto que nem lá entrámos (ficámos o tempo todo a saltar de pontes e rochas para a água). Depois do jantar de massa liofilizada fomos para o cais da ilha, onde decorreu o Fogo de Conselho. Durante esta parte da noite, foi feita a verificação dos objectivos pessoais que tinham sido distribuídos logo no início da actividade (no meu caso, a realização deste diário de bordo) e foram cantadas as canções da actividade:
- “Cheira a traque”
- “Eu e o pescador”
- “Come alheira”
- “Uma gaivota cagava”
O André decidiu contar as suas 3 únicas e repetitivas anedotas que abordam sempre o mesmo assunto: a da formiga, a do coelho e a da raposa. Tenda para alguns, noite de directa para outros que começaram por ser uns quinze, se bem que apenas dois resistiram ao conforto dos sacos-cama e assistiram ao nascer do sol. Pelo campo pareciam zombies e não escuteiros que se deslocavam. Nem os que haviam dormido toda a noite, conseguiam disfarçar o facto de não se terem deitado antes da meia-noite durante toda a última semana. O último pequeno-almoço na ilha (no café perto do cais) foi seguido de canções escutistas ao som de uma guitarra. O barco chegou e o mar estava agitado mas nada demoveu o nosso estado de espírito e a viagem de volta pareceu ainda mais rápida que a primeira. Passámos por uma mostra de renda de bilros, onde fomos reconhecidos por um estrangeiro como sendo da Cidade da Universidade. Encontrámos um restaurante com preços acessíveis e almoçámos. Acabada a refeição fomos até ao Forte de Peniche onde fizemos a avaliação da actividade. Os discursos emocionados e cheios de lágrimas da Rita e da Bulha e o do João fizeram‑me pensar na minha saída dos Exploradores, que tinha acontecido há pouco mais de um ano: foi o facto de saber que mudaria para melhor que me fez feliz com a entrada na III secção. Olho para trás e vejo trinta Exploradores dentro de uma sala, super desorganizados e percebo que um simples ano como pioneiro me fez evoluir bastante mais do que se estivesse ainda na IIª, ou isso ou o facto de ser mais velho e de ver as coisas de outra forma. Mas adiante… é isso que tem que motivar a mudança: sabermos que mudamos para melhor. Depois disto fomos para o autocarro e iniciámos a viagem de retorno. A maior parte das pessoas dormiu durante o caminho mas alguns mantiveram-se despertos e foram jogando às cartas e conversando. Chegámos a Coimbra e tivemos que lavar os duplos tectos que estavam todos “cagados” por causa das malditas gaivotas que sobrevoavam a ilha.
Mais haveria para contar mas muito do que se passou é impossível transmitir por escrito, dada a intensidade e a forma como marcou os participantes. Para a história fica o diário possível de seis dias de competição, partilha e sobretudo amizade. Quanto ao resto… vai nas memórias de cada um!
texto: Francisco Pego